15.3.18

sobre a noite que perdemos Marielle


Pão e Rosas


sinto enjoo
meu corpo dói
o desgaste é físico
da pressão de todos os dias
mas tem uma camada diferente no ar
essa película fina
uma máscara que não se sustenta
pra que serve a luta e a vida afinal?
pra amanhã?
a vida de uma mulher
negra
mãe
militante
feminista
precisa do agora
do hoje
do sol
das ruas
das rodas de mulheres
do despertar pra vida política
do grito na noite
contra o genocídio do povo negro
no colo e na conversa cúmplice
com a filha de 17 anos
não tem volta
não tem perdão
a vida das mulheres negras importam
o sangue escorre pelo chão
9 tiros
4 na cabeça
execução
todo asfalto ocupado nesse dia
é luta é vida é choro

alguma coisa precisa ser feita
alguma coisa dentro da gente
e fora

junta ato
recolhe as forças
cata os menino na rua
PM, intervenção federal
não tem água de março
tem calor, tem mormaço
estalo no tambor

muita gente
vela
cigarro
e uma noite

uma militante apaixonada
uma mãe emocionada
uma negra inconformada
e uma observadora tentando encontrar a voz disso tudo


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