30.9.13

soul




a vontade vai e vem
vou indo
e só
estar é bastante
é tanto
um tanto quanto
se quer

me balanço na voz doce
cantando
que me amolece
e desmancha os ombros
conduzindo pelas pontas dos dedos
surpreendendo em rompantes
roucos
soltos

poderia esquecer de tudo agora
me viciar
embriagada por toda noite
por todos esses sentidos que se encontram
numa canção
alma e cor
Soul

sobre confiar





quando soube que seria mãe, muita coisa mudou, a primeira foi reaprender a confiar, contra qualquer desilusão ou perda, aprender a confiar na vida passou a ser o mais importante.

confiar na vida, principalmente se você não é um fanático religioso, implica em confiar nas pessoas.

quando temos um filho é como se o alcance de nossas vidas se estendesse, estamos ligados a um futuro que nem conseguimos imaginar, e mesmo podendo controlar muito pouco, tentamos influenciar, para que de algum jeito seja possível acreditar que esse futuro será bom.

combinar isso com o realismo do amadurecimento não é nada fácil. combinar isso com o medo de ter um pedaço seu, que no início, ou talvez sempre, é um reflexo de suas fragilidades e forças, é ainda mais assustador. como dá medo enxergar suas fragilidades concentradas no ser que você mais ama e quer proteger. aí você entende, que precisa confiar em você também, mais do que nunca, porque o convívio e a cumplicidade são tão intensos, que é inevitável misturar tudo, os sonhos, os medos, as vontades, as crenças, o que há de melhor e de pior.

e então 10 anos se passam, o bebê gordinho e sorridente começa a se transformar num moço magrelo e comprido, que só quer fazer careta nas fotos e jogar vídeo game. conseguimos enxergar tão nitidamente como o tempo de criança é fugaz, piscamos e mais algum traço já se transformou. as situações em que ele terá que tomar suas próprias decisões vão aumentando e por mais tranquilo que seu filho seja, sempre vai ter uma briga na escola, uma nota ruim e os momentos que não teremos respostas fáceis. nessas horas,  todos os anos de lições cotidianas de muita paciência, amor, firmeza, fé, consciência, experiência, erros e acertos não passam de segundos. segundos num turbilhão de pensamentos e sentimentos de alguém que ainda não se deu conta de quem é e do que quer, de alguém que ainda é tão suscetível a todas as influências. nessa etapa é preciso confiar na trajetória como um todo, mais que tudo, confiar nessa pessoa que está se formando, no seu filho, que a cada passo deixa mais de ser um pedaço seu, pra ser um indivíduo, um pedaço da história toda.

e olha que ainda é só o começo!


22.9.13

tempo


 
fôlego transbordando no peito, ar preenchendo, esvaziando, vida fluindo, tomando todo o corpo, escapando pelo contorno da áurea. a ordem é interna, pressa, espera, o mundo é só o começo e é com você ser o que quiser. não existe nada além do tempo.

olhar nos olhos de alguém com calma, sem medo de enxergar que estão no mesmo lugar e podem viver o mesmo momento, só por uns segundos, o tempo de respirar o ar um do outro.

quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém.


17.9.13

fale com ela




ele disse: "estamos aqui... estarei ai pra sempre"

ela respondeu: "você está aí, não aqui!"

já tinha sentido essa sensação antes, teve medo de estar sempre rebobinando a fita, com tanto passado no presente, desencontros e esperas.

não acreditava mais, a ausência se tornou maior que a história toda. não sabia como responder, sempre teve medo, um medo maior que ela.

se sentia sozinha, mas não desistiu de respirar fundo, de olhar para os olhos e paisagens de dentro, a última semana passou mais preenchida, e preenchida dela mesma.

ficava a pergunta, por que o encontro ainda era difícil, tinha medo de descobrir que eles realmente não gostavam de quem eram, ou de quem se tornaram.

ela, presa na rotina, de alegria os momentos com o filho, o olhar sincero de algumas conversas e amores passageiros, as brechas pra fazer o que gosta ou não fazer nada, sozinha, as brechas ou os gostos quase nunca batem com os dos outros. se acostumou assim a ser meio egoísta, se concentrando em uma coisa de cada vez, se dividindo menos, talvez por isso o medo maior dos últimos tempos, de não saber mais se relacionar.

ele, não sabe mais quem ele é, perdeu o fio da meada, desconfia da janela digital cheia de ruídos e das mensagens truncadas. algumas palavras soam pesadas demais, algumas piadas não têm graça. se acostumou a ver as fotos dos seus programas acompanhado de outras pessoas, se surpreendeu com as fotos das viagens.

esse olhar desconfiado à distancia era tão diferente do olhar sonhador da segunda fileira.

era o que tinha para guardar.

pensou nas suas ligações, nas últimas conversas, no que só passou, no que guardou. queria ser mais espontânea, dizer oi e até logo... sair pra dar uma volta e não voltar.


definitivamente tinha se descolado da realidade, irremediavelmente.

só faltava aprender a se despedir.



4.9.13

na cidade selvagem




surreal, alguns dias são mais surreais que outros.
trilha sonora: panelaço
caminho de casa turbulento, muitas ligações e o coração na mão.
sair de casa pra que?
sair de casa para a cidade selvagem